Tu és fascinante
Do pouco que ainda sei
Pensam que és um armante
Mas na verdade és o Rei
Coroado de espinhos foste
E levaste bofetadas
Cuspiram-Te no rosto
Tuas mensagens rejeitadas
Sozinho morreste, então
Aos pés da cruz só se via
O Teu amado João
E a Tua mãe Maria
Uma semente bem pequena
Mais pequena que a mostarda
A Tua expressão serena
De um Reino que não tarda
Uma mulher e suas mãos
Outra medida de farinha
Á nossa mesa os irmãos
De um Reino que se avizinha
Um grão bem semeado
Um amigo que reflete
É pequeno o bocado
Para o muito que promete
Ainda é só o começo
Tanto há para compreender
O que Tu anunciaste
Está sempre a acontecer
A correr como o cego
Que encontraste em Jericó
Abre-nos os olhos da alma
Sacode-nos com força o pó
Só de Ti a salvação vem
Enganarmo-nos é inútil
A fé ensina a razão
Esta sem aquela é fútil
Pior do que isso, na verdade
Adorar a deusa razão
É passo longe da liberdade
E cedo vira imposição
Tu, sei eu, quere-nos livres
Tudo nos dás para isso
Muita coisa não vem nos livros
Entende-se com o compromisso
Sigo Tua palavra
Sigo a Ti que isso és
Sou como o arado que lavra
A caminho ponho os pés
Sou o Teu instrumento
Faço como me mandas
Evito todo o lamento
Onde me queres? Em que bandas?
Faço a mala na alma
Tudo pronto, olho atento
Respiro fundo, sinto calma
Tu chegas a qualquer momento
Tudo isto tão bem feito
Dá vontade de viver
Tanto esmero, tanto jeito
Bem sei bem o que dizer
Como tudo funciona
Quem consegue explicar?
Milhares de páginas numa obra
Sem sequer sair do lugar
Será bom discernimento
Empenhar a fortuna
A aumentar conhecimento
E chegar a conclusão nenhuma?
Vida é preciso viver
Deixo de lado a informação
Não é desmerecer
Mas é uma escolha em vão
Escolho a sabedoria
Que és TU encarnado
Essa é a melhor via
Seguir sempre espantado.