Aqui, de mantinha nos joelhos, robe e chá no parapeito da janela penso em como o dinheiro não está completamente relacionado com a riqueza. Portugal pode ser um país muito rico e continuar com uma dívida soberana enorme se por acaso não tiver quem lhe compre aquilo que tem para vender. Talvez o nosso país esteja a precisar de aceitar ser ainda mais pobre e este seja o risco necessário para depois usufruir dos ganhos que ele traz. Recordo o Nassim Taleb que preciso de aprofundar.
Como se pode ver no gráfico, para uma mesma medida de risco, os ganhos são muito maiores do que as perdas. O risco é o mesmo mas quando se ganha, ganha-se muito mais do que aquilo que se perde quando efectivamente se perde. Talvez Portugal precise aceitar coisas que na realidade não lhe fazem falta para depois poder ganhar a sua verdadeira vocação . Será que a sua vocação está realmente na pobreza? Lembrei-me agora de quando os Franciscanos tiveram ordem do Papa para enriquecer. Como foi isto? Talvez nós seremos pobres e submissos enquanto formos gananciosos e pouco generosos, mantendo os nossos talentos debaixo da terra. O que temos nós de verdadeiramente único a oferecer? Qual é a nossa missão enquanto povo? O que é que só nós podemos criar? A resposta estará no coração de cada português, no coração de cada portuguesa. Será aquela coisa antiga de transformar o mundo num lugar gratuito? Como é que isto se faz? Será unir os povos ao redor da cruz de Cristo?
Há muitos anos ia para dar aulas a Canelas e, ouvindo o som do rádio, pensei: parece que estamos numa fábrica. É só números para trás e para a frente. Dívidas e PIB e défice e mais percentagens. Na ausência de uma moral ou de ideais elevados, o racional-funcionalismo põe-nos num estado tal em que somos induzidos hipnoticamente a fazer contas atrás de contas. Vivemos dentro das contas sem saber na realidade para que servem afinal. As contas não querem dizer nada, na verdade. Queremos (nem isso nos dizem) reduzir o défice em dois pontos percentuais. O que é que isto quer dizer? O que implica? Quem é que isto motiva? Quem se sente inspirado por isto? O que pretendemos realmente? Alguém parou para pensar nisto?
Como não sabemos, no domínio do absoluto o que estamos a tentar realizar, consolamo-nos e confortamo-nos com compararmo-nos aos outros, o que, esta época tecnológica social assumiu o seu apogeu. Então vemos pessoas a perseguir e ostentar sinais exteriores de sucesso e felicidade e depois estarem completamente destroçadas na sua vida pessoal e familiar. Não sabem porque vivem e aguentam-se na base da tal comparação para critérios que lhes foram vendidos e que, no seu alcance, manifestam a sua capacidade de estar acima dos outros. Ora, isto gera uma vertigem . Quanto mais alto maior o medo de cair. O orgulho e a vaidade antecipam inevitavelmente uma queda. Acabemos com isso.
Talvez nós portuguses nos tenhamos de livrar do orgulho para abraçarmos definitivamente a nossa missão. Não procuremos o mérito. Sejamos servos inúteis. Apenas portais pelo qual uma realidade melhor vem dar glória a Deus, salvar as almas, educá-las para a eternidade. Prepará-las para o bem último que é Deus, para estar na presença de Deus. É conhecido por todos que as pessoas mais sensíveis estão mais disponíveis para o que é subtil. Ora, quem tem uma experiência de relação com Deus sabe que Ele nos propõe experiências de uma beleza cada vez mais discreta. Alguém que entrega uma cesta com comida a uma família em necessidade na máxima descrição depois de um trabalho conjunto e alegre de angariação. Alguém que pára para ouvir as histórias de um velhinho. Um patrão que se preocupa com a família dos seus funcionários. Uma camisa passada a ferro com amor. Uma mesa posta a pensar numa pessoa em particular, o riso contagiante de um tolo, o azul do céu, sentar à mesa, comer e conversar. Por oposição às luzes e sons hipnóticos que o mundo propõe, o que nos é proposto pela providência é a morte e a ressurreição . Não querer nada para mim. A morte do todos os desejos de morte. Tudo o que quero é cumprir a vontade de Deus e a partir daí sou porta e testemunha para coisas inacreditáveis.
Ora, isto não se coaduna com andar a fazer contas porque quando temos Deus na nossa vida, todas as contas saem baralhadas. Podemos fazer umas contas básicas, sim, mas sabendo sempre que o que vai acontecer confunde completamente essas aritméticas. O céu rejubila quando um só pecador se converte. Isto não se sujeita à lógica da eficiência das nossas vidas industrializadas .
Se para Taleb o risco de ter pequenas perdas é validado pela possibilidade de enorme ganho, o que Jesus nos pede é que arrisquemos uma pequena parte, a nossa vida, que a entreguemos para ganharmos o maior prémio que existe: a eternidade com Deus. É isto que estamos a perseguir. Tudo o resto são prémios mediocres que nunca nos satisfazem.