A minha comunidade tem imensos tesouros escondidos. É o meu pequeno vizinho que tem 17 bolas em casa (16 de futebol e uma de andebol), é a quantidade de instrumentos musicais que tem na casa de um outro meu amigo (desde violas a baterias e guitarras eléctricas). São os fornos de pão em cada canto. Muitos carros e carrinhas. Máquinas de carpintaria, serralharia. Tem vacarias, ovelhas e cabras e campos e ex pavilhões que tinham pintos e porcos. E tem casas quase vazias nas quais só vive uma pessoa. E tem uma bela igreja e um mosteiro a re-erguer. E tem um campo de futebol e uma escola primária e uma infantil e uma para os maiores e um edifício a que se chamou sonho. E tem um salão paroquial com salas e mesas e orgãos que podem funcionar. E tem mais o quê? Um campo de futebol com um ringue e balneários e tem tanques para lavar a roupa ao ar livre e tem bouças e dois rios. Dois rios. E uma praia fluvial. E dois restaurantes e duas farmácias e lojas onde se pode comprar legumes pequeninos para depois plantar. E há caf´és com pau quente e uma esplanada onde se fala ao domingo. E um cruzeiro. E depois tem a gente. Essa gente que sabe cantar e dançar e servir e andar de bicicleta e organizar caminhadas e falar de filosofia, e tocar orgão e costurar e lavrar campos e pedir para os mais necessitados e lavar roupa e cuidar. E há em mim o sentimento que esta gente se está lentamente juntando para uma festa. Ah, se há coisa que esta gente sabe é como dar uma festa.